quinta-feira, 12 de março de 2009

Patética parte 4

Pude experimentar o efeito venenoso do ciúme. Chego no cursinho e como sempre, ele edstá lá, com sua farda vermelha, lindo e alto. Sento em meu costumeiro lugar e percebo que ele está com uma menina magra, alta, de cabelos longos e lisos escuros, muito próxima do meu conceito de top model. Ah, ela deve ser uma chata, uma metida, uma esnobe, um lixo!!! Sabia que ele era superficial!!!

No intervalo desço para beber água. Enquanto bebo, viro-me de frente para o estreitíssimo corredor que dava acesso aos banheiros, ao lado do bebedouro. Ele está lá, parado, esperando por alguém. A modelo sai do banheiro e junta-se a ele, e naquele lugar apertado era impossível não cruzar com seu olhar. Uso a desculpa da minha pequena estatura ( comparada com eles) e abaixo a cabeça, enquanto ouço a risada baixinha que a menina dá. Ah, certo, eu devo ter parecido a perfeita panaca e ela deve ter achado a minha quedinha pelo seu namorado a coisa mais fofa do universo.

Odiando-me, volto para a sala, quando uma luz acende dentro de mim. Eu a conheço! E ela é legal!

Ele não é superficial. Sabia disso com toda a certeza do mundo, mais certa do que quando me foi mostrado que dois mais dois são quatro, e não três. Dentro de mim sabia que ela era simpática, extrovertida, divertida, sincera e bonita por dentro, também. Droga, droga droga!!! Eu sou apenas uma menina comum, e ela era espetacular, linda, extraordinária.

Não posso competir com isso. Nem em meus mais loucos devaneios posso me comparar a alguém como ela, porque ela representava tudo o que eu quero ser, e que não conseguirei de forma alguma. Enganando-me, disse para mim mesma que não havia nada senão amizade.

Taiane percebe minha desanimação, e tenta me consolar. Eu quero, mais do que tudo, acreditar no que ela me diz, convencer-me com suas palavras.

- ah, Gabi, vai ver eles são muito amigos. Olha só, quem me vê co, o Gian pensa que nós temos alguma coisa. Desencana, ele ainda é solteiro.

Esqueci de mencionar que todos dizem para eu ir falar com ele, para eu tomar coragem. Mas honestamente eu não vejo propósito nisso, visto que não existe futuro para nós dois.Não existe “nós dois”. Só eu e ele. Também não enxergo nada em mim que possa atraí-lo. Eu sou cada vez mais invisível, e a presença da garota linda gritava para mim o que eu infelizmente já sabia: eu não sou bonita OU interessante OU atraente sob nenhum ponto de vista.



Bufando internamente de raiva, resolvo ignorar o casal perfeição e me concentrar na droga dos estudos. Mesmo porque eu precisava desesperadamente passar no vestibular, e como. Era chave para me reafirmar como alguém que valesse a pena, alguém legal, interessante, inteligente e independente.

E pela primeira vez, pseudo facilitou o trabalho de esquecê-lo, ora faltando aula, ora trocando de turma. Eu sabia a razão, ou a modelo por trás dessa decisão, mas me concentrei em fingir que não ligava, e isso demanda tanto trabalho que tenho um pouco de sucesso.

Pouco a pouco, com a proximidade da prova do PSC, meus outros amigos juntam-se a mim no cursinho, e distrações não me faltam . Vez em quando me traio, imersa em devaneios, mas o tempo parece cada vez mais curto, e minhas preocupações ocupam minha mente.

Não noto, mas de repente estamos a uma semana do psc, a prova da minha vida. As aulas haviam acabado, e meu desespero era tangível. Nào ligava mais para aparência, não ligava para meu cheiro, dava pouca importância com que ele estava. A única coisa que existia em meu mundo era o fato da minha nota estar tão baixa que era preciso eu acertar a prova inteira, tirar a nota máxima em redação, para ter alguma chance de ingressar na faculdade de medicina.

E chegou o dia do psc. E passou. Achei a prova normal, muito do que eu esperava,e fui para casa, com minhas respostas anotadas. Em casa, vi o gabarito e chorei. Devo ter chorado a tarde inteira, durmi depressiva.Acordei desanimada. Era esse meu fim, não conseguiria passar.

Vesti uma rioupa confortável, evitei o falatório de minha mãe e segui para o cursinho. Não me importei que ele estivesse lá. Não me importei que ela estivesse lá. Eu só queria passar, e logo.

Uma das minhas melhores amigas entra no cursinho também,e serei eternamente grata a ela por ter feito aqueles dias cinzas um pouco mais coloridos. Ela me fazia rir, me fazia olhar e paquerar meninos bonitos. Fazia-me esquecer os problemas, esquecer minha baixa auto-estima.Ayla fazia eu me sentir bem, feliz.

Agora sentávamos nas carteiras da frente. A top model entrou, e cochichei para Ayla quem era essa magricela esnobe que passava por nós.

- Essa que é a top- sussurrei em direção a ela.
- Top não, gabby, é louva-Deus- Taiane solta em resposta.

Ayla olha por um momento para a garota de cabelos longos, que se sentara o mais distante possível de pseudo, com um olhar raivoso em sua direção. Ayla olha para mim maliciosamente. Mas o professor entra na sala e começa sua aula, e o que quer que a mente de Ayla havia produzido, no momento ficou guardado só para ela.

O sinal toca, e a top sai rapidamente, quase voltando. Enquanto ela passa por nós, ayla de repente grita:

- LOUVAAAAAA.- e olha sugestivamente para mim. E eu entendo o que ela quis dizer.

- DEEEUSSSSS- e juntas caímos na risada.

Minhas outras amigas, paloma e taiane, nos olham e também riem. Não me importei ( muito) que José fosse atrás dela, esse era meu momento de felicidade. Outro professor entra e a rotina continua.

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