quinta-feira, 12 de março de 2009

Patética parte 5

Meus ultimos dias tornam-se mais felizes. Eu fico mal por um tempo a cada olhar dele, mas rapidamente me distraio. Eu realmente tenho os melhores amigos que uma garota pode pedir, e que eu provavelmente não merecia. Nosso grupo crescia, e alunos do cursinho entravam e interagiam conosco. E quando estava com meus colegas, nada me atingia (muito).

E então chega o dia da divulgação do resultado do psc. E isso gruda na minha mente, e não penso em mais nada. Meu porto seguro também não se concentra: Ayla havia prestado psc pra medicina, e no momento encontrava-se tão ou mais nervosa que eu. E de repente murmurios de felicitação são ouvidos. Um garoto havia passado. Para medicina.

Peço o celular de meu amigo emprestado, e vejo a lista de aprovados. Mas não vejo muito. Ayla toma de minha mão antes de eu começar a lê-la. E cai em desespero.

- Ai meu Deus!!! AI MEU DEUS!!! EU NÃO PASSEI!!! EU NÃO PASSEI!!- e a partir daí o choro a impede se ser entendida. Mas eu entendia perfeitamente o que ela queria dizer.

Taiane arranca o celular de suas mãos, me impedindo de entrar em desespero também.

- TÁ AQUI!! TÁ AQUI!!! TU PASSOU !!!! – Taiane berra a plenos pulmões.

Ayla olha para Taiane incrédula por meio segundo, e então grita furiosamente, icompreensívelmente. E me aproveito da distração e pego o celular.

Só havia uma Gabriela na lista. E não era eu. Não era eu.

A verdade cruel me atingiu como uma bala de canhão.

Eu não passei.

Não passei
Medicina estava fora para mim.

Por qu eu claramente era burra demais para passar.

Não me dei conta de meus atos, e me vi jogada na cadeira, escondendo o rosto, chorando furiosamente. Eu com certeza era a personificação do desespero, e eu realmente não me entendi. Não era minha primeira derrota.

Mas era mais uma derrota.

Eu não ia ser médica.

Eu sabia que estava fazendo uma cena, mas eu não conseguia me controlar. O choro passou a ser histérico, e nada que niguém fizesse ou dissesse me faria melhorar.

Ou assim eu pensava.

- GABRIELA, SUA TAPADA, TÁ AQUI TEU NOME!!! SUA RETARDADA, SUA LOUCA, SUA LESA, TU PASSOU!!!! PASSOU, IDIOTA!!!

Incrédula, pasma, encaro paloma, enquanto as palavras aos poucos faziam sentido. Meu nome. Na lista. Eu. Medicina. Eu. Passei. Entrei. Eu. Faculdade. Faculdade.faculdade.

E de repente eu estava gritando histericamente, caída de joelhos.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!! EU PASSEI!!! EU PASSEI!!! AI CARALHO, EU PASSEI!!! EU VOU SER MÉDICA!!!! TOMA!!!! TOMA, LESO!!!! AYLAA, AYLAA, PASSAMOS!!! A GENTE CONSEGUIMOS!!!! TU VAI TER QUE ME AGUENTAR PRO RESTO DA VIDA, HAHAHAHA!!!!

Eu pulava histericamente com Ayla, o mundo esquecido, o inferno esquecido. Meu maior sonho havia se realizado, e eu não podia pedir mais nada. Eu ainda gritava histericamente, acompanhada por ayla, quando o professor nos mandou entrar em aula.

E eu não entrei.

Em vez disso desci as escadas, numa felicidade inquebrável. Mas precisava beber água, se quisesse continuar gritando loucamente. E ele estava lá. Triste, tímido, encolhido. Isso me incomodou um pouco, porque naquele momento o mundo inteiro devia ser feliz. O mundo inteiro era bonito. E viver era uma das melhores coisas.

- e então, vocês passaram- o amigo dele nos pergunta gentilmente.

- Arrãm, passamos- Ayla conta, com o orgulho elevado ao infinito.


- ah, é? Pra que?- dessa vez ele, meu pseudo, se dirigia a mim. E olhando em seus olhos, respondi:

-Medicinia- enunciando cada sílaba com o ego inflamado.

Ele olha diretamente em meus olhos, falando intensamente:
-Parabéns.

E a partir daí há uma troca de carinhos, e felicitações, e abraços e beijos não expressos fisicamente, porque não era necessário. Pelo mais infinito dos segundos, olhamos na alma um do outro. Ele não precisava dizer que me queria. Eu não precisava expressar minha paixão. A compreensão disso tudo acendeu-se com um clique em minha mente. Eu podia ter quantos namorados eu quisesse. Mas nada seria comparado a isso. O nível de intimidade que havia na nossa troca de olhar não era atingido nem pela maior proximidade física. Naquele momento, eu era dele. E ele era meu.

- obrigada- com um sorriso enorme no rosto, saí ao sol para aproveitar a minha felicidade.

Um comentário:

Tai :D disse...

chorei...
Esse dia tá nos top 10 da minha vida... =D
Amigas pra sempre... ;D
Te amo, xuxu.