quinta-feira, 12 de março de 2009

Patética parte 2

Volto um pouco desmotivada para sala de aula, mas me recuso a deixar que minha amiga Paloma me console, porque honestamente eu não sou do tipo de pessoa que precise ser consolada. Esboço uns sorrisos amigavéis a ela, agradecendo a preocupação, mas afirmando veementemente ( talvez até para mim mesma) que estva tudo bem.

Mas não deixo de notar que ele olha de vez em quando na minha direção. Ao espreguiçar-se, ao jogar a cabeça pra trás, ele me olha, mas não me empolgo. ele deve tá curioso, talvez, ou é louco mesmo, penso desanimada.


Ignoro seus olhares contínuos e tento me concentrar no que o professor diz. Não é tarefa fácil,no entanto persisto e finjo não nota-lo. Em uma hora cruel, tenho que passar por ele, para pegar a apostila que o professor estava usando. Seguro a respiração, encolho a barriga, mas vejo que isso não é necessário: ele não tem o material também. Na hora de voltar, sou impedida pelo fiscal, uma vez que não se pode sair de sala e voltar no mesmo horário. Viro-me, e seguindo uma mania, encaro, distraída, o nada. Passo um bom tempo fazendo isso, quando percebo a direção do meu olhar. Ele me encara de volta. Confusão e curiosidade no meu olhar, vergonha e raiva no dele. Amaldiçôo minhas manias estúpidas e desvio o olhar, e tenho certeza de que, se fosse muito mais clara, teria corado furiosamente.

Esse simples evento foi o bastante par mudar meu tedioso cotidiano. Tornou-se comum o meu pensamento vagar entre as provas do colégio e ele. Ele também não ajudava, olhando constantemente na minha direção.
Logo minhas colegas percebem os olhares que dou, e minha cada vez mais presente falta de atenção, e para minha surpresa, descobrem a causa também. E estupidamente tiram fotos, com meu celular, das costas do garoto, e claro que, se pudesse, estaria corando.
- Carol, pára de bancar a idiota e me dá droga desse celular- digo, a raiva espumando em minha boca.

- Aaaaahh, Gabi, vai dizer que você não quer isso no seu celular?!

O que sai de minha boca são grunhidos raivosos, mas a verdade é que não apago a foto. Sempre só, encaro suas costas como se estas pudessem me sorri, me dizer que eu era a garota mais legal daquele lugar, e que minha aparência de Ugly Betty não importava, que era até engraçadinho. Ele não tornou a me olhar, e minha mente procurou não se importar muito com isso.

Mas algo já acontecia comigo. Não posso impedir meu coração de acelerar quando o vejo, ou deixar minhas mãos secas, ou de me fazer de idiota, tropeçando e caindo na frente dele. Mas isso não é muito surpreendente, levando em consideração a propensão que eu tenho para atrair pequenos acidentes.


Entretanto continuo indo ao cursinho como ia antes, falando com meus amigos com antes falava. A rotina torna-se uma companheira para todos os momentos, e o tédio de vez em quando junta-se a nós.

Sempre sento-me na carteira atrás dele. Primeiro porque quero esconder-me dele. Segundo porque é uma boa desculpa para de vez em quando olhar na direção dele. Os momentos difíceis são quando eu realmente preciso passar por ele, ou quando nos esbarramos na porta da sala.
É curioso ver como ele me faz olha-lo constantemente, ou a maneira que penso nele, todos os dias. A atração que sinto é forte demais, ultrapassa as barreiras que minha autoconfiança construíram no minuto em que me entendi adolescente. Eu me tornara o tipo de garota que tanto repudiara, aquela que segue a paixonite, que escreve seu nome dentro de m coração no caderno, que passa noites em claro imaginado-se ao lado dele.



Não gosto dessa situação, de não entender o que sinto, de reconhecer em mim todos os sintomas de estar apaixonada, mesmo sabendo que isso é impossível, que há pouco tempo eu estava apaixonada pelo único ex. este agora pertencia a um passado estranho, como se minha vida não me pertencesse até o momento em que vi o menino alto.

Odeio cada batida acelerada do meu coração, odeio o sangue enchendo minhas bochechas, o suor emudecendo as mãos, a cada olhar que ele me dá, cada vez que o vejo na frente do pequeno prédio.

E para piorar a minha confusão, eu nem ao menos sabia seu nome. Não sabia do que gostava de ouvir, do que odiava comer, do que achava da crise econômica que ameaçava bater em nossa porta. Como eu posso ser assim?? O nome, eu nem sei o nome dele!!!!

Paloma o conhece por alto, contando-me que achava que seu nome era Paulo, ou João, ou algo do tipo. Grande ajuda! Quem resove o problema com o nome é Taiane, uma novata, que o chama de pseudo-edward, em alusão à minha alma gêmea fictícia criado por Meyer.

Talvez tenha sido esse o motivo do meu súbito interesse. Talvez eu tenha refletido nele todo o romantismo e Edward, toda sua irresistível sensualidade. Tenho a sensação que o hálito dele é tão doce e frio e...beijável quanto o de Edward. Sim, exatamente igual.

Acredito que o fundo do poço tenha sido fuçar na internet à sua procura. Visitei páginas de quatro pessoas, duas conhecidas e duas desconhecidas, até encontrá-lo, enchendo-me de lágrimas e invadida por uma repentina empolgação quando o acho. Quando percebo minha atitude odiosamente infantil, repudio-me, enojo-me, talvez bato levemente em minha bochecha.

Mas não apago seu endereço do meu histórico. Por algum motivo,eu sei,preciso fazer isso, eu preciso de um pequeno pedaço dele, uma mísera parte do que ele é. Finalmente descubro seu nome. José Paulo. José Paulo, José Paulo, José Paulo. Certo, nem minha paixonite idiota faz o nome parecer legal de alguma forma.

É,disse uma crual vozinha n fundo de minha mente, mas você continua escrevendo Sra. José Paulo no fim de seu caderno. Instantâneamente travei uma batalha mental com essa vozinha, vencendo-a com facilidade. Mas isso não muda o fato de você ser a menina idiota que escreve o nome em um coração.

Tapo a voz com uma meia imaginária, e retorno às minhas atividades. Parece incrível, mas nem a presença de José basta para afastar a monotonia. Ainda chego atrasada, suada, desarrumada e cansada. É comum me ver carregando um copo com água. Entro na sala, os olhos varrendo-a em busca de meus colegas. Encontro uma nova amiga, Bill, e graças a qualquer ser divino ela havia guardado um bom lugar para mim. Por praxe meus olhos esquadram o colega ao meu lado. Sim , é ele. A dez centímetros de mim, a um suspiro do meu rosto, a um pequeno esforço das mãos. Minhas pernas balançam nervosamente em um tique incontrolável, e ao olhar na direção dele, vejo sua mão apoiada sobre a carteira, as palmas viradas, em um convite irresistível, tal qual a maçã de Eva.

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