quinta-feira, 12 de março de 2009

Patética parte 3

Creio que, pela primeira vez, coro. Furiosamente. Mentalmente condeno Bill aos abismos mais profundos do inferno, peço ajuda a todas as divindades existentes e não-exitentes do universo. Tento voltar ao controle, mas é inútil. O matraquear do professor não prende minha dispersa atenção. Meus amigos percebem minha comoção, e caridosamente trocam de lugar.

Longe dele fica mais fácil me manter sã. As palavras finalmente parecem fazer sentido, sou capaz de resolver novamente as equações. Matemática,muito obrigada por ser o que é, por manter minha sanidade quando eu mesma não são capaz de faze-lo.

Animada, faço com facilidade a atividade proposta. Números, letras e soluções ocupam o lugar deixado pelas minhas neuras de adolescente. Nem ouço o que Paloma me diz, ou o que Bill me mostra. A matemática cura, que incrível!


A voz do professor me alerta, tirando-me de meus devaneios. Percebo que , mais uma vez, não possuo o material, e peço do professor, com a voz muito baixa. O professor entraga os papéis justamente para José. Sim, ele tem que me entregar. E sim,para isso ele tem que me olhar, e, mais importante,eu tenho que lhe dizer obrigada.

Levanto-me com a maior dignidade do mundo, vindo de não sei onde, e pego a folhinha de suas mãos, ah, que mãos! esboço um meio sorriso, tímido, e um obrigada murmurado sai de minha boca. Ele olha-me, e não diz “de nada”. não me sorri, e o olhar que me dispensa é o mais puro ódio, desprezo. Meu sorriso derrete como se ácido tivesse sido jogado, e volto envergonhada para minha carteira.

Mas a raiva toma conta de mim . mas eu não fiz nada, não disse nada, nem farei coisa alguma!!!!! Ele que pegue sua perfeição idiota e vá ser legal bem longe!!!

Isso me traz de volta a realidade. Novos livros, novas distrações. A prova no colégio, a prova de vestibular, cada dia mais próxima, colocam José no fundo esquecido de minha mente. A bagunça da rotina me mantém ocupada, volto a sorrir com as coisas mais sem graça. A presença dele ainda me incomoda, me tira do sério, me transforma em outra Gabriela, e é nesses momentos que a raiva de mim mesmo se mostra mais violenta.

Em casa, tudo que faço é dormir. Por isso me assusto com o toque do celular anunciando uma nova mensagem:
- Gabi,sua vaquinha! Por que tu não vieste? Você nem vai acreditar com quem eu conversei hoje!!!

Não, ele não. Qualquer um, qualquer todos,menos ele!

- Eu falei mesmo com ele. Nada demais. Só que ele estava sentado atrás de mim e do Valter. Aí ele comentou que o nariz dele tava muito ruim...aí a gente conversou um pouco. E só. Ele parece ser gente boa. Ele já foi, tava ruim.

Ai meu Zeus, ele estava doente!!! Eu devi cura-lo, consola-lo. Vai ver ele precisa de colo. Ou de um analgésico. Ou de mim.


Mas seu olhar naquele dia, cheio de rancor, retornam a minha mente. Que seja, nem me importo de verdade.


Não, eu me importava de verdade. Eu queria que ele estivesse bem, queria que seu nariz não o incomodasse e, acima de tudo, queria que ele me notasse. Mas não adianta, porque tudo o que eu faço me leva cada vez mais fundo para a invisibilidade.

Não me considero bonita, pelo menos para os padrões normais e regulares de beleza. De estatura média, pele morena acobreada, olhos castanho-escuros e cabelos no mesmo tom, nunca me destaquei na multidão. E esse fato nunca me incomodou.

Agora incomodava mais que tudo. Eu queria ser olhada por ele, queria que ele me achasse bonita, interessante e inteligente. Queria saber que o que sentia naquele momento era recíproco.

Mas ele não me notava, ou então não demonstrava. E faltava regularmente agora. Tentei pensar que não era a causa disso, mas não pude evitar que esse louco pensaento passasse pela minha cabeça.

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