terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A ultima terça

Tédio. Essa Palavra resumia muito bem meus dias. O meu tempo livre, que antes era preenchido por imensos livros de cálculos e biologia, agora não passava de dias longos encarando o nada ou sentada na frente de um computador caçando o que fazer.Não havia nada nos cinemas, nas livrarias, ou na locadoras. Tudo assumira um tom de lugar-comum impossível de se ignorar.
Claro, poderia muito bem ocupar essa lacuna simplesmente indo a praia. Mas em Manaus não haviam praias. Não as que são banhadas pelo mar. E certamente, não as limpas. A solução geralmente eram as piscinas, mas o mundo inteiro sabe o quão incrivelmente nojentas elas são, dada a massiva quantidade de secreções fisiológicas que os seres humanos geralmente lançam nelas.
Assim sendo, sou uma chata que vive presa em casa. As raras excessões eram minhas crescentes idas a parte clássica da cidade, almoçar n'O Castelinho e curtir um sorvete com minhas amigas no banco do Largo São Sebastião. Havia uma mágica naquele lugar que era impossível de se por em um papel.Toda essa beleza, no entanto, era rigorosamente ignorada às 13:30, quando o sol estava em seu ponto mais alto,e quasque se podia fritar um ovo no chão.
Nos últimos dias, poréma iluminada Manaus se transformara em uma estranha nublada. As nuvens escondiam com muita eficiência o sol, e ao invés de recebê-la de braços abertos, me vi odiando cada vez mais as gotas de chuva que caíam ao chão.
A manhã daquela terça era quente,abafada, claustrofóbica. O Sol se punha à pino, e as parcas nuvens brancas e fofas espaçavam-se pelo céu.Uma beleza de promessa.Aproveitei a oportunidade e liguei para Taiane, uma queriada amiga, animada e otimista. Combinamos um almoço de meninas, com toda a gang. Paloma, Agatha, Ayla, Irena, fabíola, Taiane e eu nos conhecemos no colegial, mas agora o ensino médio estava acabado, e em meio ao nervosismo pré-universidade, de alguma forma conseguimos manter a amizade.
E foi com imensa felicidade e nostalgia que entrei no restaurante. Encontrei as garotas em uma mesa na primeira sala do restaurante, notando a ausência de duas.
- A Paloma não vem? Nem a Agatha- perguntei, imaginando mais um castigo das duas.
-AAAAhhhhh, elas estão no hospital,parece- me informa Irena.
- Ééééé, é aquela virose misteriosa que tá dando por aí- comenta Ayla, com uma estranha expressão.
- Mas também, com esse tempo inconstante, até o Super-Homem ficaria dodói- na tentativa de tirar o que quer que houvesse no rosto de Ayla.
- Mas amiga, essa virose é perigosa. Vi no jornal que ela tá começando a matar. Principalmente aqui na cidade.

Um silêncio constragido seguiu-se ao comentário. Com a mente trabalhando a mil, tento encontrar uma saída:
-depois do almoço, nós devemos totalmente ir visitá-las!
- É, é uma boa.
- apoiada, apoiada.
-Eu vou ligar pra mãeda Paloma. E da Agatha. Vou tentar descorir onde elas estão internadas.-Fabíola se prontificou.
Depois disso, almoçamos com um pouco mais de paz.Irena havia acabado de voltar de New York, e contava-nos suas aventuras pela Big Apple. Um cineasta bonitão e rico fazia parte delas,pelo o que eu entendia.Remoí minhas entranhas silenciosamente, condenando a mal-sucedida viagem a Venezuela. reconfrotei-me no fato de que Seattle me esperava, e apenas 2 meses me separavam do sonhado intercâmbio.
Após o almoço, decidimos passar um tempo nos bancos do largo, mesmo porque 12:30 com certeza não era horário de visitas em nenhum hospital.
Eu amava aquele largo. Do banco onde eu estava sentada, a contradição não podia ser mais óbvia. em primeiro plano, o Teatro Amazonas, grandioso, imponente, a mistura das linhas bem marcadas e geométricas do clacissismo com a sinuosidade do art nouveau dda década de 20. E logo atrás, os edifícios grandes e sujos dos anos 70, macicó blocos de concreto da época em que se acreditava que a Amazônia era um paraíso perdido. Alguns novos prédios surgiam tímidos por ali, um indício de progresso.
Sou arrancada dos meus devaneios por uma sensação esquisita de que estava sendo observada. A fonte da sensação me encarava com olhos amarelos de fúria. Olhos amarelos? Nossa, era a primeira vez que via alguém com olhos dessa cor. OU talvez fosse apenas lentes de contato. Observando melhor, , vi que o olho inteiro era amarelo, em diferentes tons, como em degradê. Como se ele estivesse com alguma doença no fígado. e a medida que eu notava esses detalhes, uma secreção gosmenta amarelada caiu de seus olhos, e a raiva parecia irradiar daquele homem.
-Humm, senhor, o senhor se sente bem?- perguntei desconfortavelmente.
Minhas amigas olham para mim com espanto, antes de tornarem sua atenção para o homem, que vagarosamente aproximava-se de mim. O choque me paralisou na cadeira, e ouvi minhas amigas ofegando, assustadas. O homem me encarou com uma expressão calculista e assassina por cinco segundos, e então cuspiu em mim.