quinta-feira, 12 de março de 2009

Patética parte 1

O sol escaldante da cidade faz minha nuca suar. Droga, droga, droga, calor idiota! Rapidamente digo adeus à boa aparência de menina bem-arrumada, e entro no pequeno prédio branco, esperando mais um dia maçante de aula. Desejo um rápido bom-dia aos meus colegas e sento em meu lugar, abençoando quem quer que tenha ligado o ar-condicionado.Percebendo a demora de meu professor, tiro um livro sedutor, de capa preta estampado com uma maçã, e no mesmo instante sou tragada pela estória envolvente.
- Gabi, cuidado com o professor.
O aviso de Paloma me deixa alerta.Meus olhos varrem a sala à procura do “perigo”, mas me acalmo. Como sempre, o chato está atrasado. Melhor pra mim, eu tinha mais tempo para ler, pelo menos.

Estudo no melor colégio da cidade, à custa do grande esforço de meu pai, e faço o melhor cursinho pré-vestibular também, graças à amiga-herdeira-sobrinha-do-dono. E como se é de esperar, vejo muitos garotos bonitos todos os dias. Muitos. Mas não dou tanta importância pra isso, mesmo porque a maioria aparenta ser exatamente o tipo de pessoa que não consigo conviver: esnobe. E frequentando os lugares que frequento, conversando com quem eu converso, precebi que essa é uma característica quase vital pra sobreviver nesse novo mundo de privilegiados. Então eu me exclui. Mas não completamente. Conservo uns poucos ( e bons) amigos.

Porém um menino chamou minha atenção. Por causa dele olhei duas vezes para um garoto do cursinho. Ele tem a aparência do menino-bonito-comum: alto, cabelos louro-escuros, ou castanho, e olhos garndes, claros. Ainda assim, não consegui desviar o olhar dele.
No início achei que talvez fosse porque ele me lembrava imensamente o personagem do tal livro de capa preta. Mas sabia qua havia algo a mais. Eu nunca me interessei por ninguém só pela aparência, mas de alguma forma ele conseguia atrair minha atenção como um ímã.

Obrigo-me a ouvir ( e ver) o professor de biologia. Ele discute divisão celular, uma coisa que já sabia decorado, aprendido e cantado. Minha mente, outrora tão sã, me trai, e meus pensamentos vagam para o menino alto e lindo sentado em minha frente.

Etretanto tenho minhas distrações, mais eficazes que o falatório eterno do professor. Leio o livro, faço as tarefas escolares, passo bilhetinhos. O garoto, ainda bem, sai da minha cabeça.

Os dias passam, e esqueço desse episódio curioso. Minha rotina segue como sempre foi, alterada de vez em quando por um almoço com as amigas, ou um cinema com os amigos.
E ele continua na minha rotina também, esbarrando em mim de vez em quando. Não que isso seja surpreendente, é muito comum esbarrar em mim, uma vez que é difícil notar minha pequena presença.
O dia da segunnda prova do vestibular chega e passa muito rapida. O resultado sai enquanto estou no cursinho, e é morrendo de ansiosidade que saio na hora do intervalo e conecto à internet via celular. A decepção em meu rosto é clara,mas procuro mascará-la.

Eu não sou a única com a auto-estima baixa, então procuro consolar um amigo, enquanto fico feliz pelos que passaram, especialmente por uma amiga muito querida. Aliás, a notícia de sua aprovação apaga minha derrota da memória, e me vejo sorrindo honestamente para os aprovados.

Encostada na parede do prédio, noto que estou sendo observada. Estranho, penso, já que ninguém se incomoda em olhar muito tempo pra mim. Seguindo essa estranha sensação de vigilância, vejo-o olhando sério para mim. Tímido, meio triste. Enquanto seus amigos riem, ele sorri timidamente também. Coitado,pensei, ele não deve ter passado também. Uma onda de simpatia desconhecida me oinvade, e rapidamente a reprimo.

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